sexta-feira, 8 de março de 2013

Os JC's e a Maldição dos Latinos

Dois sujeitos têm importância crucial na vida ocidental moderna e, particularmente, representam a maldição mais terrível do mundo latino, em especial, latino-americano. Ambos são conhecidos pelos cidadãos contemporâneos por nomes iniciados por "J" e "C", muito embora, originalmente, não eram chamados assim, pelo menos em forma completa.
Por volta do século I aC, cruzam os portões para o interior de Roma, hordas de soldados em formação. Seu comandante: Gaio Julius Caesar. Até aquele momento, jamais um cidadão romano havia adentrado Roma como militar.
César vinha de uma vitoriosa campanha na Gália. É preciso dizer que os romanos detestavam os gauleses. Em tempos passados gaulês era sinônimo de fustigação, invasão, saque e pilhagem. Definitivamente, os gauleses não eram simpáticos aos romanos. Conquistar a Gália, portanto, era um símbolo de vitória e dominação. Saber que os gauleses tinham sido submetidos foi motivo de grande alívio, alegria e sentimento de revanche. Só por isso César já passaria para a História como grande general.
Roma começava a viver períodos conturbados em sua república. Os cônsules se revezavam sem conseguir se firmar no poder, a corrupção imperava, intrigas enfraqueciam o senado. César aproveita-se dessa situação e o promove o primeiro golpe de estado militar da história de Roma. César se instala como ditador. Para se legitimar no poder anistia e atrai oponentes, perdoa quem se opôs ao golpe, entre eles Marcus Junius Brutus, órfão de um herói de guerra e filho de uma das amantes de César, que o toma como padrasto. Além disso massacrou tentativas de reversão, perseguiu Pompeu até este ser assassinado em traição.
Para se legitimar no poder tomou uma série de iniciativas. Determinou um salário para todos os cidadãos, premiou legionários fiéis, nomeou populares para o senado. Aos olhos de hoje, César seria um populista. Para dizer a verdade, acho que César foi o primeiro populista da história.
Suas iniciativas enfureceram a elite romana e não foi difícil planejar seu assassinato. Sua morte provocou uma comoção popular tão grande que fez os senadores romanos temerem por suas vidas.
Cerca de meio século depois, nasceu, em Belém, na Palestina um garoto, filho de uma família abastada, chamado Iuosha. Há muita polêmica sobre a origem desse bebê. Historiadores sustentam que o mais provável é que Maria, uma adolescente, teria sido estuprada por um soldado romano. Grávida seria morta por apedrejamento, pena, na época, naquelas bandas, imputada às mães solteiras. José, carpinteiro, viúvo, idoso, amigo da família, se dispôs a casar com ela para evitar sua morte. Parece que esse mito da Concepção viria depois, em amálgama com as desculpas por Iuosha ter nascido tão cedo após o casamento.
Desde garoto, Iuosha mostrou-se um prodígio. Capaz de ler as escrituras, coisa que só os abastados poderiam, já discutia com rabinos os textos sagrados. Adulto, aparentemente, Iuosha se tornou um curador, espécie de médico sem chancela. Revoltado com a ostentação dos renegados como Herodes, o rei da Galiléia, diante de uma miséria atroz, Iuosha se notabilizou por discursos e pregação pelos pobres, contra os ricos que se aproveitavam do domínio romano. Sua atuação amealhou seguidores e ameaçou os rabinos renegados. Iuosha entrou montado numa mula pelo portão leste de Jerusalém, na véspera da Páscoa judia. Esse ato tinha uma significação especial, pois pelas escrituras o Messias faria isso. Notem o simbolismo dessa entrada pelo portão de Jerusalém e de César com seu exército. O resto é o que se sabe.
Foi o grego Saulo de Tarso, depois Paulo, quem iniciou a pregação dos pensamentos de Iuosha Messiah, como era chamado, para fora da Palestina. Paulo chamava, por equívoco, Iuosha de Jesus e o cunhava de "O Cristo" termo grego para o aramaico Messiah, que quer dizer "o ungido".
Curiosamente, foram os romanos que espalharam a religião cristã para o mundo. Após a revolta de Massalah, em vez de massacrar todos os palestinos e destruir tudo o que encontravam, que era a pena que os romanos reservavam para os revoltosos, nesse caso, porque Vespasiano precisava de dinheiro para financiar a construção do Coliseu, os soldados trouxeram os judeus como prisioneiros e os venderam como escravos. Escravos, os judeus em Roma, pregavam as palavras de Jesus Cristo.
Poderíamos dizer que Jesus Cristo deu base teórica ao populismo.
Outro JC. Enquanto um, imperador, teve a imagem imbuida de tal força que os imperadores que se seguiram em Roma eram chamados de César, na região da germânia, apareceu a figura do Keiser (Kaiser), na Rússia, a figura do Csar. Ambos derivados do imperador romano. César também é considerado o maior estadista do mundo ocidental.
Desde então, nós latinos, repetimos de forma mórbida, neurótica e obsessiva o que fez Júlio César. Ditadores se revezam e baseiam seus atos na repetição do que fez Júlio César e disse Jesus Cristo. Assim como o neurótico não se livra da cena daquilo que ele interpretou como estupro, nós, os latinos, não nos livramos da cena do estupro a Roma, através da penetração das divisões do exército romano. Repetimos e repetimos. Não saímos disso. Sempre irá aparecer multidões de fanáticos seguidores, dispostos a matar ou morrer pelo "César" de plantão.
Como Sísifo, rei de Corinto, foi condenado a empurrar uma grande pedra montanha acima para, lá chegando, ver a pedra rolar de volta para baixo, e assim, ter de recomeçar, nós, os latinos, estamos condenados a assistir, eternamente o aparecimento de ditadores, caudilhos e usurpadores a repetir o populismo de Júlio César.
Não há cura, pois Freud tratou dos indivíduos neuróticos, mas nada comentou acerca do tratamento às sociedades neuróticas. Péron, Vargas, Fidel, Chaves, Brizola, e, por que não?, Lula, são diferentes versões, algumas grotescas, do grande Júlio César. É preciso notar que, após César, Roma nunca mais recuperou a democracia. Alcançou alguma prosperidade, mas a república estava caída de morta. O populismo foi praticado por, literalmente, todos os imperadores e ditadores que dominaram Roma, após Júlio César. Mesmo Nero, que parece, não era tão mau como pintado por seus detratores.

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